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calculo1:sequenciaselimites

Sequências e Limites

Chegou a hora de falar como somar dois números irracionais! Dado dois números a e b. se eles são racionais na escola aprendemos como somá-los. Mas como somar 2 e 3?

Precisamos lembrar que cada número irracional tem uma representação por decimais. Seja an e bn o truncamento por n digitos da expansão decimal de a e b. Lembrando que assim temos aproximação de a e b por um erro de no máximo 10n. Portanto se considerarmos an+bn (soma de dois números racionais) teremos um resultado que no máximo tem um erro 2×10n até a soma “verdadeira” de a e b. Assim aumentando n, teremos resultados cada vez mais próximo a valor de a+b.

Se pensar um pouco, vamos ver que para produto ou divisão de dois números irracionais, o método de aproximar por racionais não é tão trivial quanto a soma.

Sequência:

o exemplo de an acima é exemplo de uma sequência de números. Uma sequência de números reais geralmente é denotado por (an)nN,anR. Porém podemos encontrar sequnências como (an)nk ou (an)n=k.

Exemplo: Seja an=n+1n, então os elementos desta sequência crescem com índice (n) , i.e anan+1 e os elementos desta sequência não se acumulam perto de nenhum número.

Em geral no cálculo 1 trabalhamos com sequências que cada elemento delas é um número real. Porém, uma sequência em E (um conjunto qualquer e não necessariamente R) é uma função de N em E.

por exemplo podemos considerar sequência de escadas que “aproximam” a hipotenusa de um triângulo retangular como na pagina Cálculo: vamos quebrá-lo!

Outro exemplo (sequência de retas!): seja ln uma sequência de retas que passam pela origem com inclinação n. Os elementos desta sequência são retas que quando o índice n cresce os elementos ficam mais próximo a reta vertical. Podemos considerar essa sequência como sequência de funções também. Aqui fn pode ser considerado n 'esimo elemento da sequência, onde fn é a função com regra fn(x)=nx,xR.

Limite e Convergência

Chegamos a um conceito bastante interessante. Já encontramos uma vez este conceito de convergência quando falamos de números irracionais e sua aproximação por números racionais a partir de sua expansão decimal. Porém a sequência de aproximações por decimais é uma sequência muito bem comportada e “tame”. A partir de agora quando falamos sequência, referimos sequência de números. A noção de convergência para números já é suficientemente delicada.

Seja (an)nN uma sequência real, então dizemos que a sequência converge, se existir a tal que para todo ϵ>0 exista N, tal que |ana|ϵ para todo n>N.

Observe que N em geral depende do ϵ.

Vamos falar em português!:-P: Para qualquer precisão ϵ, existe N tal que a partir de N, todo elemento da sequência an,n>N é ϵ próximo a a, ou seja para um computador com precisão ϵ , todos os elementos an,n>N são iguais a a.

Exemplo 1.

Considere a sequência -1, 1, -1, 1, -1,…. i.e an=(1)n. Essa sequência não converge a nenhum limite. Vamos demonstrar por absurdo. Suponhamos que exista um limite L para tal sequência. Portanto pela definição Para qualquer ϵ>0 existe NN tal que para todo n>N temos |anL|ϵ. Se colocarmos ϵ=1/2 então deveria existir algum N tal que para todo n>N teriamos |anL|1/2.

Portanto pela desigualdade triangular teriamos |anan+1||anL|+|Lan+1|1/2+1/2=1. Isto é um absurdo, pois |anan+1|=2 para todo n.

Exemplo2 :

Seja an=1n. Essa sequência converge a 0. Escrevemos

limnan=0.

De fato, se ϵ>0 é arbitrário, podemos escolher sempre um número N tal que N>1ϵ ou seja 1N<ϵ e portanto para todo nN temos

|an0|=|1n0|=1n1N<ϵ.

Ao longo de tempo vamos acostumar com a noção de convergência e não vamos achar que a demonstração acima é uma mágica!

O seguinte teorema é uma ferramenta fundamental para calcular limites.

Teorema: Sejam an,bn duas sequências de números reais convergindo a a,b (podem ser complexos também, se voce os conhece!) então:

  • A sequência cn;cn=an+bn converge a a+b
  • A sequência cn;cn=anbn converge a ab
  • Se para todo n,bn0, e b0 a sequência cn;cn=anbn converge a ab

Não ignorem o poder do teorema acima!

Você precisa usar ele diversas vezes e é necessário aplicar corretamente.por exemplo, considere an=(1)nn. Essa sequência converge a zero, mas não podemos simplemente considerar essa sequência como divisão de duas sequências (1)n e n e calcular o limite. Pois (1)n não possui limite. Porém escolhendo N, exatamente como caso da sequência 1/n teremos

|an0|=|(1)nn0|=1n1N<ϵ.

e isto mostra que o limite é zero.

Exemplo: Considere an=1/n e bn=2/n. O que acham do limite de cn=an/bn. Claro que cn=1/2 para todo n e portanto limncn=12. Porém não podemos usar o teorema acima, pois b=0.

Vamos provar o teorema:

item (1): Vamos utilizar uma linguagem computacional. Seja an uma aproximação de a e |ana| será chamado de erro de aproximação. Agora se considerarmos an+bn como uma aproximação de a+b então qual será o erro de aproximação?

Suponhamos δ=aan,δ=abn. Então

(a+b)(an+bn)=(aan)+(bbn) e portanto

|(a+b)(an+bn)||δ|+|δ| ou seja se considerarmos an+bn como uma aproximação de a+b o erro de aproximação não é maior do que a soma dos erros de aproximações. Portanto se desejarmos aproximar a+b com um erro menor do que ϵ é suficiente usar a convergência de an e achar N1 tal que para nN1

|aan|ϵ2

Da mesma forma existe N2 tal que para todo nN2 teremos

|bbn|ϵ2.

Agora se escolhermos N, um número inteiro maior do que N1 e N2 então para todo nN teremos

|δ|ϵ/2,|δ|ϵ/2 e portanto o erro de aproximação de a+b por an+bn para nN será menor do que ϵ.

Agora vamos analisar como será a prova da parte (2) do teorema: qual será o erro de aproximação de ab por anbn, se o erro de aproximação de a por an é igual a δ e da aproximação de b é δ:

abanbn=(an+δ)(bn+δ)anbn=anδ+bnδ+δδ.

claro que se δ,δ forem pequenos então δδ também é um número pequeno, mas anδ ou bnδ podem não ser pequenos. Para continuar vamos precisar de seguinte lema:

Lema: Seja zn uma sequência que converge a z. Então existe um número K tal que para todo n, temos |zn|<K e além disto |z|<K.

Vamos usa o lema acima para terminar a demonstração do item (2) do teorema.

Primeiramente observe que

|abanbn|=(ababn)+(abnanbn) e portanto

Desigualdade Maravilhosa: |abanbn||a||bbn|+|bn||aan|.

Seja ϵ>0 um número real e que queremos aproximar ab com precisão ϵ por sequência anbn. Pelo lema anterior existe K e L tais que

|an|<K,|a|<K e da mesma forma |bn|<L,|b|<L.

Por outro lado sabemos pela convergência das sequências an e bn que existem N1,N2 tais que para nN1 temos

|aan|ϵ2L

e por outro lado para nN2 teremos

|bbn|ϵ2K

portanto se escolhermos N maior do que ambos os números N1 e N2 então para todo nN teremos

|abanbn|Kϵ2K+Lϵ2L=ϵ.

 Um belo exemplo

Seja a=487.r1r2r3,b=3.s1s2s3 onde rn e sn são computáveis com algum esforço! Queremos escolher n tal que se

an=487.r1r2r3rn e bn=3.s1s2s3sn então a diferença entre anbn e ab seja menor do que 105. Isto é, num computador com precisão 105 anbn é o memso que ab.

observem que pela desigualdade maravilhosa acima e o fato de que |aan|10n,|bbn|10n temos |abanbn|(K+L)10n onde K e L são estimativas superiores para an,bn.

portanto, se colocarmos K=488 e L=4 temos

|abanbn|492×10n.

Agora, para que essa diferença seja menor do que 105 basta escolher n tal que 492×10n<105 ou seja 492<10n5. O menor n que satisfaz essa desigualdade é n=8. Portanto se usarmos 8 dígitos decimais de a e b, a aproximação de ab terá precisão de pelo menos 105. LEGAL, né?

calculo1/sequenciaselimites.txt · Last modified: 2022/04/04 07:55 by 127.0.0.1