De fato o estudo de limite de funções foi motivado por outro tema que é a DERIVADA de uma função. Suponhamos que um objeto está em queda livre. Não é difícil acreditar que a “velocidade” deste objeto varia ao longo do tempo. Logo surge a noção de velocidade instantânea.
Suponhamos que um objeto está na posição d0 no momento t0. Se a posição dele no momento t1>t0 for d1, então definimos sua velocidade média neste intervalo de tempo como
d1−d0t1−t0.
Desde os tempo de Galileo, o celaculo de velocidades foi um problema intrigante. Apenas com descoberta do cálculo diferencial pelo Newton e Leibniz tivemos respostas rigorosas a pergunta de velocidade instantânea.
Seja d:R→R denotar a posição de uma partícula no momento t na reta de números reais (para facilitar vamos assumir que D(d)=R). Definimos a velocidade instantânea no momento t∈R como o limite das velocidades médias entre os tempos t e s quando s convergir a t. Ou seja,
lims→td(s)−d(t)s−t.
Pronto! estamos com um problema de cálculo de limite de funções. Fixamos t, Podemos definir uma função
g(s):=d(s)−d(t)s−t,
e a velocidade instantânea será igual a lims→tg(s).
Lembrem (na definição do limite) que para definir limite acima, não precisamos que a função g esteja definida no ponto t.
Portanto, há necessidade de calcular limites!
Exemplo 0: Calcule limx→1f(x) onde f(x)=x−1.
Neste casos, podemos advinhar logo o limite:
limx→1(x−1)=0.
Podemos demonstrar usando quantificadores: Para todo ϵ>0 existe δ>0 tal que se 0<|x−1|≤δ então |f(x)−0|≤ϵ.
Ora, |f(x)−0|=|x−1|. Portanto basta escolher δ=ϵ para garantir a desigualdade desejada.
Se queremos que |f(x)−0|≤0.09 basta que |x−1|≤0.09.
Vamos agora a um exemplo não trivial:
Exemplo 1: Calcule limx→0sen(x)x.
Este limite é um dis limites fundamentais que vamos usar bastante no futuro. Porém neste momento precisamos refletir bem para perceber que “não é fácil” de advinhar! Para começar a função nem está definida no ponto x=0. Observe também que não podemos usar ferramentas como última proposição da aula anteior:
o limite do denominador da função sen(x)x quando x→0 é igual a um!
Bom, o numerador também tem limite igual a zero queando x tende a zero.
Exatamente aqui reside a beleza do cálculo, pois precisamos achar para que ponto a divisão de dois números que estão ficando muito próximo a zero, vai convergir, se é que converge!
Numa línguagem “muito vulgar e imprecisa” queremos saber qual é o valor de 00 .
Vamos colocar a mão na massa: Para x≠0,|x|<π/2
sen(x)<x<tan(x) , se x>0 (pense! Compare áreas de triângulos e setor do círuclo com ângulo x na figura abaixo para concluir essa desigualdade.) e
tan(x)<x<sen(x), se x<0. (veja a figura abaixo)
Portanto se x≠0 teremos
1<xsen(x)<1cos(x).
Pois bem. Na aula anterior, verificamos que cos(x) é uma função contínua de x e portanto limx→0cos(x)=cos(0)=1. Então, limx→01cos(x)=1.
Já que o valor da função xsen(x) para todo x (próximo a zero, aliás |x|<π/2 ) está entre duas funções (função constante 1 e 1cos(x)) cujos limites quando x→0 coincidem e é igual a um, concluímos que
limx→0xsen(x)=1. (peraí, como??? veja abaixo!)
Portanto agora usando a última proposição da aula anterior, concluímos que
limx→0sen(x)x=1.
No cálculo do limite acima, usamos um fato simples que tem um nome “gostoso”:
Teorema de Sandwiche (ou teorema de confronto (“nome de mal gosto”)): Sejam f,g,h três funções que f(x)≤g(x)≤h(x). suponhamos que x0 é um ponto limite do domínio de todas elas e
limx→x0f(x)=limx→x0h(x)=L
então limx→x0g(x)=L.
Exemplo 2: Calcule o limite abaixo:
limx→01−cos(x)x.
Observe que quando x tende a zero, o numerador da fração acima, 1−cos(x) converge a 1−cos(0)=0. Portanto falando de uma forma informal, para calcular este limite precisamos entender o comportamento de divisão de uma quantidade por outra, enquanto ambas convergem ao zero.
Vamos adiantar um segredo indecente mais correto: neste exemplo, o numerador converge ao zero de uma forma mais forte que o denominador! Vamos ver o que isto quer dizer matemáticamente:
Uma igualdade trigonométrica importante:
1−cos(x)=2sen2(x2)
Usando a igualdade acima temos: 1−cos(x)x=2sen2(x2)x=(sen(x2))sen(x2)x2.
Toda manobra que fizemos, é para escrever a fração inicial como produto de duas funções e usar o item (2) da proposição (propriedades básicas).
limx→0sen(x/2)x/2=1. Observe que já temos mostrado que limx→0sen(x)x=0 portanto trocando x por x/2 ainda o limite é um.
limx→0sen(x2)=0. Pois a função seno é contínua em zero.
Sendo assim,
limx→01−cos(x)x=0×1=0.
No processo de cálculo do limite acima, fizemos algumas operações algébricas, massageando a função, para poder desvendar aonde ela converge quando a variável x tende ao zero.
Um erro comum! Sabe onde está o erro de dizer que 1−cos(x)x=1x−cos(x)x e já que limx→0cos(x)=1, então limx→01−cos(x)x=0?
De fato como sugerido por um aluno do ICMC observe que este tipo de erro pode te levar a lugares obscuros! Veja por exemplo limx→01−cos(x)x2=12 porém usando o “argumento errado” acima teriamos limx→01−cos(x)x=limx→01x2−1x2=0. ***
Exemplo 3: Verifique a existência de limx→sen(1x).
Observe que D(f)=R∖{0} e portanto x=0 é um ponto limite do domínio da função. Portanto faz sentido perguntar sobre limite acima. Porém vamos ver que o limite não existe!
Um olhar intuitivo: Vamos olhar o gráfico desta função:
Bem, quando x→0 a função oscila muito! “A função não decide para qual valor convergir quando a variável x tende ao zero.”
Vamos ver isto analiticamente: Suponhamos que exista algum limite L. Portanto para toda sequência an≠0 e que an→0 temos que ter
limn→sen(1an)=L.
Agora, se escolhermos an=1nπ concluímos que L=0.
Por outro lado se escolhermos an=1nπ+π2 obteremos que L=1.
Ora, mas pela definição se o limite existir, deve ser único número!