Vamos dar dois exemplos onde naturalmente encontramos a função exponencial. A função exponencial satisfaz a seguinte propriedade:
f(x+y)=f(x)f(y)
Depois mostraremos que toda função contínua que satisfaz a condição acima é de fato uma função exponencial.
Decaimento radioatívo
Elementos radioativos transformam em outros elementos ao longo do tempo. É importante saber a quantidade que permanece (não transformou) após um determinado tempo t.
Suponhamos M(t) representar a fração da materia (de uma unidade de massa) que sobra após passar o tempo t. Vamos assumir que M(t) é uma função contínua de t e M(0)=1,0<M(t)<1 para todo t>0.
Se iniciarmos com A unidades de massa, ficaremos com AM(t) de material radioativo inicial depois de tempo t.
Qual será a quantidade de material após tempo s+t? Vamos calcular de duas formas diferentes:
Primeiramente pela definição a quantidade sobrada é é AM(s+t). Por outro laso após o tempo s a quantidade é AM(s) e em seguida vamos calcular a quantidade da materia quando passa tempo t e chegaresmo ao valor AM(s)M(t). Portanto:
M(s+t)=M(s)M(t) (1)
Observe que M(x)<1 para todo x>0 e portanto concluimos que
limx→0M(x)=0 (verifique isto!)
Sabemos que M(0)=1 e portanto pelo teorema do valor intermediário concluímos que existe h>0 tal que M(h)=12.
Observe que usando (1) concluímos que M(t+h)=12M(t). Isto significa que começando em qualquer tempo t, após passar tempo h a quantidade de materia é dividida por dois. Este tempo é chamado de meia vida.
Por exemplo a meia vida de carbono-14 é de 5730 anos.
Crescimento de bactérias
Suponhamos que P(t) é o tamanho da população bacteriana (começando no tempo zero por um abacteria) no tempo t.
Assumimos que P é uma função contínua e P(0)=1 e P(t)>1 para todo t>0.
Se fornecemos nutriente e as bacterias não competirem entre se e tivermos espaço suficiente para crescimento das bacterias. É razoável esperar que nestas circunstâncias a população da colonia é proporcional a população inicial, ou seja
tamanho da população no tempo t=AP(t) onde A é o tamanho inicial.
Argumentando similar ao caso de decaimento radioatívo concluímos
P(s+t)=P(t)P(s). (2)
Já que P(t)>1 para t>0 podemos usar a relação (2) e concluir que limx→∞P(x)=∞ e pelo teorema do valor intermedíario deve existir d tal que P(d)=2. Novamente usando a relação (2) concluímos que para qualquer t temos:
P(t+d)=2P(t)
ou seja d é o tempo de dobra!
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Casamento de Álgebra e Análise
Vamos mostrar que toda função contínua f satisfazendo:
f(x+y)=f(x)f(y),a=f(1)>0
deve ser uma função exponencial, f(x)=ax.
Para começar vamos substituir x=y na equação (2). Portanto
f(2x)=f(x)f(x)=f(x)2
Agora se colocarmos y=2x na equação (2) concluímos
f(3x)=f(2x+x)=f(2x)f(x)=f(x)2f(x)=f(x)3 e continuando desta forma podemos provar que para todo x:
f(nx)=f(x)n (3)
Se x=1 a equação (3) implica que f(n)=f(1)n=an.
Agora se colocarmos x=1n na equação (3) temos f(1)=f(1n)n e portanto f(1n)=a1/n.
Agora considere x=1m na equação (3). Logo
f(nm)=an/m. Até agora temos provado que para qualquer número racional r>0 vale f(r)=ar.
Já que f é uma função contínua, para todo número irracional α>0 também temos f(α)=aα
É um exercício provar f(x)=ax para x<0 também.
Exponencial é mais forte de qualquer polinomial!
Teorema: Para qualquer a>1 a função ax cresce mais rápido de que qualquer xk quando x tende ao infinito, k=0,1,2,3,⋯. Isto siginifica que para qualquer k∈N:
limx→+∞axxk=+∞ ou equivalentemente
limx→+∞xkax=0
O caso mais simples é quando k=0. De fato para isto basta provar que limx→+∞ax=+∞.
Caso k=1: Definimos f(x)=axx e temos:
f(x+1)=ax+1x+1=axxa1+1x (4)
Afirmamos que para x grande o suficiente, o fator a1+1x é maior do que 1. Por efeito, a>1+1m para algum número m. Seja b=a1+1m. Agora para todo x>m temos
a1+1x≥a1+1m=b>1. Juntando isto com a relação (4) temos:
f(x+1)≥f(x)b.
f(x+2)≥f(x)b2, ….. f(x+n)≥f(x)bn
Agora, qualquer número grande X pode ser escrito como soma de dois números, um dos quais pertence ao intervalo [m,m+1] e o outro é um número inteiro n. Denotamos por M≠0 o mínimo da função no intervalo [m,m+1]. Então:
f(X)=f(x+n)≥f(x)bn≥Mbn
Dado que b>1 concluímos que f(X)→∞ quando X→∞.
Caso k>1: Precisamos achar s tal que sk=a e ai temos:
axxk=(sxx)k
e usamos o caso k=1 para concluir a demonstração.
Exemplo Diferente: Calcule limx→−∞axx5.