Limite e Continuidade 1
Considerando o assunto de erro de aproximação, para um ponto x∈Dom(f) (um ponto no domínio de f) dizemos que a função é contínua no ponto x (ou que tem estabilidade de computação no ponto x), se
∀ϵ>0,∃δ>0 tal que se |x−y|≤δ entao |f(x)−f(y)|≤ϵ
Lembrem pela aula anterior que determinar o valor adequado de δ pode depender de x e ϵ e geralmente é uma tarefa árdua.
Vai ser difícil!? nem tanto!
Para mostrar a continuidade de uma função no futuro próximo vamos utilizar uma ferramenta que essencialmente é uma mistura de uso de álgebra e análise. De fato álgebra (como um aparelho massageador de expressõs e funções) vai colaborar para domesticar os monstros com ajuda de análise. Este é o processo de limite! antes de falar de limite de funções vamos mostrar como mais um exemplo, a continuidade de uma função trigonométrica.
Exemplo de continuidade:
Vamos mostrar que a função f(x)=sen(x) é contínua em todos seu domínio.
Vamos falar um pouco de trigonometria. Lembramos que os ângulos serão identificados com números reais, considerando uma relação de equivalência, i.e, dois números cujos diferença é um múltiplo inteiro de 2π são o mesmo ângulo. Lembramos também que estamos considerando a medida dos ângulos em radiano.
Vamos primeiro provar que x→sen(x) é contínua no ponto x=0. Já que sen(0)=0; precisamos provar que para todo ϵ>0 existe um número δ>0 tal que se |θ−0|=|θ|≤δ então |sen(θ)−sen(0)|=|sen(x)|≤ϵ.
Para facilitar vamos considerar o círculo de raio 1 e assim sen(θ)=AH. (apesar de que na figura está aparecendo 3!). Observe que a medida de ângulo em radiano é igual a proporção dos comprimentos do arco correspondente e o raio do círculo.
No triângulo retangular AHD, sabemos que AH < AD (hipotenusa é maior do que cateto) e o comprimento de AD é menor do que o do arco AD que pela definição é igual a θ.
portanto sen(θ)<AH<AD<θ. Veja θ considerado na figura (ângulo DOA).
é positivo e portanto |sen(θ)|=sen(θ)<θ. Isto significa que basta tomarmos δ=ϵ (a escolha de delta está em nossa mão e pode depender do ϵ).
Se η<0, o argumento será similar: O ângulo DOB = η é negativo e |sen(η)|=−sen(η)=KB<BD<|η|. Portanto novamente a escolha de δ=ϵ funciona.
Agora vamos verificar a continuidade num ponto θ0 arbitrário. Precisamos mostrar que para todo ϵ>0 existe δ>0 tal que se |θ−θ0|≤δ então |sen(θ)−sen(θ0)|≤ϵ. Se escrevermos θ=θ0+h temos
sen(θ)−sen(θ0)=sen(θ0)cos(h)+cos(θ0)sen(h)−sen(θ0)
=sen(θ0)(cos(θ0)−1)+cos(θ0)sen(h)
então |sen(θ)−sen(θ0)|≤|sen(θ0)(cos(h)−1)|+|cos(θ0)sen(h)|
agora, usamos seguintes estimativas:
|sen(θ0)(cos(h)−1)|≤|cos(h)−1| |cos(θ0)sen(h)|≤|sen(h)|.
Podemos escolher δ>0 tal que se h≤δ então |cos(h)−1|≤ϵ/2. Isto pode ser demonstrado com um argumento geométrico como fizemos acima, para função coseno. De fato basta tomar δ=ϵ/2.
Pela continuidade no zero, a escolha adequada do δ implica que |sen(h)|≤ϵ/2.
Reunindo todas as conclusões acima:
|sen(θ)−sen(θ0)|≤ϵ/2+ϵ/2=ϵ.
Limites:
A noção de limite e convergência (já estudamos para sequências) para funções vai ser uma ferramenta muito útil e mágica para averiguar a continuidade das funções. Além disto tem suas utilidades por si só.
Vamos discutir na próxima aula.