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Funções reais
A partir de agora tratamos os números reais com tanta complexidade que oferecem, como apenas simples números que podem se somar, multiplicar e dividir ….Novamente vamos aceitar (ou fingir) que sabemos fazer essas operações com todos os números. Numa próxima aula veremos o que significa operação entre números, em particular os irracionais!
Assim que o cálculo é : As vezes vamos aprofundar o máximo possível e respeitar o rigor matemático e as vezes é necessário deixar do lado o rigor e curtir o cálculo!
Uma função é como uma maquina que alimenta um número real (input) e fornece outro número (output) usando alguma regra.
Domínio da função: São os números que a função aceita como input.
Por exemplo função f(x)=1x aceita qualquer número real exceto x=0. Portanto o domínio é R∖{0} que as vezes denotamos por R∗.
Denotamos por D(f) o domínio da função f.
A imagem da função f é {y∈R:∃x,f(x)=y}, i.e. f(D(f))={f(x):x∈D(f)}.
Função identidade: Essa função apesar de ser muito simples, tem uma colaboração fundamental.
IdS:S→S e IdS(x)=x. Geralmente não escrevemos IdS e apenas escrevemos Id.
Pode parecer muito estranho definir uma função tão trivial. Para responder, apenas lembrem quão importante foi a introdução de número zero na teoria dos números.
Composição de funções:
Sejam f:D(f)→R e g:D(g)→R duas funções. Se R(f)∩D(g)≠∅ então podemos definir uma outra função h=g∘f (composição de g e f) de seguinte forma. Seja D(h)={x∈D(f):f(x)∈D(g)},
h=g∘f:D(h)→R, g∘f(x)=g(f(x)).
As vezes podemos compor uma função com ela mesma. Por exemplo se f:R∖{0}→R,f(x)=1x então f∘f,f∘f∘f,⋯ são funções reais. É fácil ver que f∘f∘f∘⋯∘f, composição n−vezes resulta a função identidade de D(f) se n é par e caso n ímpar a composição coincide com a f.
Exemplos:
1. Funções linear e afim: A função f:R→R,f(x)=kx+l onde k,l∈R é chamada de uma função afim e se l=0 chamamos de função linear.
Lembre que o gráfico de uma função afim sempre é uma reta cuja inclincação é k.
Onde encontramos uma função afim? A posição de uma partícula em movimento na reta sem aceleração é dada por uma função afim de tempo. d(t)=vt+d0 onde v é a velocidade e d0 posição inicial.
Uma propriedade importante de uma função linear é:
f(x+y)=f(x)+f(y),∀x,y∈R.
Observe que se f(x)=kx+l,l≠0 a equação acima não é válida. Porém quando l=0, ou seja f é uma função linear, então temos a propriedade f(x+y)=f(x)+f(y).
Curiosidade: Se f satisfizer f(x+y)=f(x)+f(y),∀x,y∈R podemos concluir que f é linear? A resposta a essa pergunta em geral é negativa e precisamos de aprender mais tópicos (continuidade) para responder positivamente em alguns casos. Porém seguinte exercício é bom:
Exercício:Se f(x+y)=f(x)+f(y),∀x,y∈R então f(x)=f(1)x para todo x∈Q.
2. Função Polinomial: Em geral uma função polinômial de grau n tem regra p(x)=anxn+⋯+a1x+a0. Por exemplo P(x)=ax2+bx+c é uma função polinomial que é conhecida como função quadrática.
A posição de uma partícula em movimento na reta com aceleração constante é dada por uma função quadrática de tempo. d(t)=1/2at2+v0t+d0 onde v0 é a velocidade inicial, d0 posição inicial e a a aceleração.
3. Funções racionais: Seja f(x)=P(x)Q(x) onde P,Q são dois polinômios em x. Então f:D(f)→R é chamada de uma função racional. Observem que D(f)={x∈R:g(x)≠0}.
4. Função módulo ou valor absoluto: Uma outra função clássica é f:R→R,f(x)=|x|. Pela definição Im(f)=R+. Uma brincadeira interessante é tentar esboçar gráfico de funções com regras de tipo f(x)=|x−a1|+|x−a2|+⋯+|x−an| onde ai's são números reais e distintos. Verifique que o gráfico de tais funções tem n “bicos”!
Exercício: Esboce o gráfico de f(x)=||x|−1|. Sem esboçar o gráfico pode imaginar quantos bicos o gráfico da função tem?
Função inversa:
Seja f uma função injetiva f:D(f)→R(f). Então a inversa da f é denotada por g=f−1:R(f)→D(f) e satisfaz
f(g(y))=y para todo y∈R(f) e g(f(x))=x para qualquer x∈D(f). De forma equivalente podemos escrever:
f∘g=IdR(f) e g∘f=IdD(f)
Quando temos a expressão de uma função f, para achar a expressão da função inversa, precisamos resolver achar x em termos de y na equação y=f(x).
Considere f(x)=1x. É fácil ver que D(f)=R(f)=R∗. Para achar a inversa desta função escrevemos
y=1x⇒x=1y
e assim achamos o x em termos de y e portanto f−1(y)=1y. Claro que podemos escrever f−1(x)=1x. Ou seja a inversa da f coincide com ela mesma. f−1=f.
Considere a função f(x)=x2. Novamente é fácil ver que D(f)=R e R(f)=R+={t∈R,t≥0}.
Existe um probleminha: a função não é injetiva. Portanto ela não tem inversa.
Que tal restringir essa função. A restrição de uma função em algum sub conjunto de seu domínio é mais uma ferramenta “trivial” e muito útil na matemática.
Seja g:[0,∞)→R e g(x)=x2.
Então as “regras” das máquinas (funções) f e g são as mesmas. Elas pegam um número e levam ao quadrado. A diferrença é que, por alguma razão a máquina g não gosta e não aceita números negativos!
Entretanto, a função g é injetíva. Pois se g(x)=g(y) então x=±y, e já que ambos x,y sõa números positivos, concluímos que x=y.
Assim podemos definir a inversa da g e chamamos de g−1:R(g)→[0,∞). Claro que R(g)=[0,∞).
Para isto escrevemos y=x2 e temos x=±√y e tendo em mente que x≥0 teremos
g−1(y)=√y.
Achar inversa de uma função (mesmo polinomiais) em geral não é uma tarefa fácil. As vezes não é possível achar uma expressão por operações básicas (multiplicar, dividir, pegar raíz, somar). Isto é pois precisamos resolver uma equação polinomial que as vezes pode não ter solução expressa por operações básicas (Curiosos: Teoria de Galois). Não se assustem! elas não são cobradas na prova de cálculo 1.