Quando vimos o Problema das Sete Pontes de Königsberg , estávamos interessados em determinar um roteiro que passasse por todas as pontes apenas uma vez. Para tal, é essencial o conceito de passeios e de caminhos, bem como o de ciclos.

Definição: Passeio

Dado um grafo $G=(V, A)$, um passeio em $G$ consiste de uma sequência finita alternada de vértices e arestas, começando e terminando por vértices, tal que cada aresta é incidente ao vértice que a precede e ao que a sucede.

Matematematicamente, temos que um passeio em $G$ é uma sequência não vazia $P = (v_0,a_0,v_1,a_1,\cdots,a_{k-1},v_k)$ de vértices ($v_k$) e arestas ($e_k$) de $G$, em que $a_i=\{v_i,v_{i+1}\}$ para todo $i<k$.

Os vértices $v_0$ e $v_k$ são a origem e o término de $P$, respectivamente, ou também chamados de extremidades. Além disso, os vértices $v_1,v_2,\dots,v_{k-1}$ são os vértices internos de $P$.

O comprimento de um passeio é o número de arestas de $P$, e denota-se $P^k$., onde $k$ é o comprimento de $P$.

Se $v_0=v_k$, o passeio é fechado.

Assim sendo um passeio em um grafo é uma sequência de vértices dotada da seguinte propriedade: se $v$ e $w$ são vértices consecutivos na sequência então $v-w$ é uma aresta do grafo. Uma aresta do passeio é qualquer aresta $v-w$ do grafo tal que $w$ é o sucessor de $v$ no passeio.

Definição: Trajeto

Dado um grafo $G(V, A)$, um trajeto em $G$ consiste em um passeio, tal que cada aresta aparece apenas uma vez. Um trajeto no qual o vértice inicial e o final são iguais é chamado de trajeto fechado.

Definição

Dado um grafo $G(V, A)$, um caminho em $G$ consiste em um passeio onde não há repetições de vértices,isto é, eles são todos distintos.

Em outras palavras, um caminho é um trajeto onde não há repetição de vértices.

Um caminho em um grafo é, então, um passeio sem arestas repetidas, ou seja, um passeio em que as arestas são todas diferentes entre si. Além disso, um caminho é dito simples se não tem vértices repetidos.

A origem de um caminho é o seu primeiro vértice. O término é o seu último vértice. Se um caminho tem origem $x$ e término $y$, dizemos que vai de $x$ a $y$.

As seguintes observações podem ser feitas:

  • Os vértices finais de um caminho possuem grau $1$ e os demais, vértices intermediários, possuem grau $2$;
  • Para grafos não valorados o comprimento é igual ao números de arestas incluídas no caminho, e em grafos valorados é igual a soma dos valores das arestas;

No exemplo abaixo, temos um caminho $P = P^6$ em $G$, por exemplo:


Definição

Um trajeto fechado no qual nenhum vértice (com exceção do inicial e do final) aparece mais de uma vez é chamado de ciclo (circuito ou caminho fechado).

O compriemnto de um ciclo é dado pelo seu número de arestas. O ciclo de tamanho $k$ é chamado de $k$-ciclo e denotado por $C^k$.

Um ciclo é simples se não tem vértices repetidos exceto pelo último, que coincide com o primeiro.

Ciclos são estruturas importantíssimas. São os ciclos que tornam grafos interesantes, mas também complexos e difíceis de manipular. Dizemos que uma aresta $v-w$ pertence a um dado ciclo( ou que o ciclo passa por este arco) se o vértice $w$ é o sucessor de $v$ no ciclo.

Observe o grafo abaixo:

São exemplos de ciclos neste grafo:

$$5-7-5$$

$$4-7-5-4$$

$$6-2-7-3-6$$

$$5-4-7-3-6-2-7-5$$

O primeiro tem comprimento $2$; o segundo, $3$; e o terceiro, $4$. Esses três ciclos são simples. O último ciclo não é simples.

Para caso de completude, observe que $5-4-7-5-1-3-6-2-7-5$ não constitui um ciclo deste grafo.


Proposição

Se $G(V,A)$ é um grafo tal que $d(v) \geq 2$ para todo $v \in V$, então $G$ contém um ciclo.

Demonstração:

Se $G$ possui laços ou arestas paralelas, não há o que provar. Então, vamos supor que $G$ é um grafo simples. Seja $v_0 \in V$ um vértice arbitrário de $G$. Como $d(v) \geq 2$ para todo $v \in V$, podemos construir um passeio $v_0 \to v_1 \to v_2 \cdots$ indutivamente, escolhendo $v_{i+1}$ como sendo qualquer vértice adjacente a $v_i$ exceto $v_{i-1}$.

Como $G$ possui uma quantidade finita de vértices, em algum momento escolheremos algum vértice, digamos $v_k$, pela segunda vez.

A parte do passeio entre a primeira e a segunda ocorrência de $v_k$ constitui um ciclo.

$\square$


Referências

  • Paulo Feofiloff. "Caminhos e Ciclos em grafos" . Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo- IME-USP. Acesso em 21/09/2022.
  • Reinhard Diestel. “Graph Theory” .5th Electronic Edition 2016, pp. 01–03. Acesso em 16/09/2022.
  • Valeriano A. de Oliveira. Socorro Rangel. Silvio A. de Araújo. "Teoria dos Grafos: Caminhos e Circuitos" . Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas -Ibilce-Unesp. Acesso em 21/09/2022.
  • Valeriano A. de Oliveira. Socorro Rangel. Silvio A. de Araújo. "Teoria dos Grafos: Grafos Eulerianos" . Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas -Ibilce-Unesp. Acesso em 21/09/2022.
  • grafos/caminhos.txt
  • Última modificação: 2023/08/10 13:33
  • por 127.0.0.1