====== Empacotamento, recobrimento e arboricidade ====== O teorema de Menger associa o grau de conexidade de um grafo a existência de caminhos disjuntos (arestas). Entretanto o teorema não fornece uma maneira de encontrar tais caminhos. Considere a seguinte definição : Um **empacotamento** de grafos ([[grafos:defarvore|árvores]]) $T_1,...,T_n$ em um grafo $G$ são subgrafos $S_i \approx T_i$ de $G$ cujas arestas são duas a duas disjuntas. Analogamente um **recobrimento** de $G$ por (árvores) $T_1,...,T_n$ são cópias isomorfas destes grafos, realizados como subgrafos de $G$, cobrindo todas as arestas de $G$. Podemos nos perguntar se existe * empacotamento ou recobrimento, * deste ou daquele tamanho, * por grafos desta ou daquela classe. Suponha que podemos empacotar $k$ árvores geradoras de $G$ em $G$. * Fixe dois vértices $a,b \in \mathrm{V}(G)$. * Para cada $i$, temos um $T_i$-caminho entre $a$ e $b$. * Eles serão disjuntos com relação as arestas. Logo se temos tais árvores, ficaria fácil construir estes caminhos. Isso nos motiva a encontrar bons empacotamentos de árvores com boas propriedades. ===== Teorema do recobrimento por empacotamento ===== Seja $T$ uma árvore geradora de $G$. * Entre dois vértices de $G$ existe um único caminho. * Chamemos qualquer arestas fora de $T$ de **corda**. * Adicionando uma corda, introduzimos um circuito $C_e$ fundamental, que inclui $e = \{a,b\}$ e todo o $T$-caminho $P$ entre $a$ e $b$. * Note que removendo qualquer aresta $f$ de $P$ e adicionando $e$ às arestas de $T$, obtemos outra árvore geradora $T_{e,f}$, a árvore **$T$ troca $e$ por $f$**. Seja $\mathcal{T} \doteq (T_1,...,T_k)$ uma coleção (ordenada) de árvores. A coleção de arestas $E(\mathcal{T})$ é a reunião das arestas de cada uma destas árvores. Uma **cadeia de troca de arestas** é uma sequencia de arestas $(e_0,...,e_n)$ se * $e_n$ não está em nenhuma das $T_i$. * Para todo $i ** Lema: ** Seja $e_0,...,e_n$ sequencia de troca de arestas para $\mathcal{T}$. Se $e_0$ pertence a duas árvores, então podemos encontrar família $\mathcal{T}'$ com $E(\mathcal{T}) \subsetneq E(\mathcal{T}')$. ** Teorema do recobrimento por empacotamentos [Bowler-Carmesin]: ** Para todo multigrafo e todo $k \in \mathbb{N}$, existe uma partição $\mathcal{P}$ de $\mathrm{V}(G)$ tal que * Para todo $U \in \mathcal{P}$, $G[U]$ empacota((E portanto é conexo.)) $k$ árvores geradoras. * A contração $G/U$ pode ser recoberta por $k$ árvores geradoras. ===== O teorema de Nash-Williams ===== Seja $c:\mathrm{V}(G) \to r$ uma coloração (( Interprete $r$ como $\{0,...,r-1\}$ (conjunto com $r$ cores/elementos). Equivalente a $r$-partição.)). Uma aresta é dita **de cruzamento** se suas extremidades tem cores distintas. ** Lema das arestas de cruzamento: ** Uma $r$-coloração de uma árvore gera ao menos $r-1$ arestas de cruzamento em $T$. **Demonstração: ** * Considere $\sim$ a relação $a \sim b$ se, e somente se, o $T$-caminho que une $a$ a $b$ tem apenas vértices de mesma cor, $a$ e $b$ inclusos. * Isso forma uma equivalência entre os vértices. * O grafo induzido pelas classes são conexos. * [[grafos:inflacao_minor|A contração]] de $T$, identificando estes vértices, gera uma árvore. * A conexidade de $T$ é preservada sobre cada contração, logo o grafo resultante é conexo. * De um ciclo $[v_1],[v_2],...,[v_n]=[v_1]$ construiríamos um ciclo em $T$, um absurdo. * Existem ao menos $r$ classes, pois $T$ foi colorido com pelo menos $r$ cores, e cores distintas produzem classes distintas. * Temos ao menos $r-1$ arestas. * Cada uma destas arestas foram induzidas de arestas de cruzamento. Temos as seguintes condições necessárias para empacotamento de $k$-árvores geradoras: * **[1]** Um grafo que empacota $k$ árvores geradoras é $k$-conexo. * De fato, entre quaisquer vértices existem $k$-caminhos disjuntos (arestas). * Removendo menos que $k$ arestas, ao menos um destes caminhos fica intacto. * Este caminho testemunha a conexidade do grafo, removido destas arestas. * Concluímos a $k$-conexidade. * **[2]** Toda $r$-coloração gera $k(r-1)$ arestas de cruzamento. * Como argumentamos acima, cada uma das $k$ árvores geradores terá $r-1$ arestas de cruzamento. * Como elas estão empacotadas, não há repetição de arestas entre as árvores. * Concluímos que existem pelo menos $k(r-1)$ arestas de cruzamento. ** Teorema de Nash-Williams: ** A condição **[2]** é suficiente para que exista empacotamento de $k$ árvores geradoras. ** Demonstração: ** * Dado $r \in \mathbb{N}$, aplique o teorema do recobrimento por empacotamentos e obtenha uma $r$-[coloração/partição]. * O teorema conclui que * $G[\text{vértices de certa cor}]$ é conexo, e empacota $k$ árvores geradoras. * $G/[\text{classes dos monocromáticos}]$ é coberto por $k$ árvores geradores. * Cada árvore tem $r-1$ arestas. * Todas as árvores, em conjunto, tem então no máximo $k(r-1)$ arestas. * As arestas dessas árvores correspondem à arestas de cruzamento da coloração, que por hipótese são no mínimo $k(r-1)$. * Concluímos que as árvores são disjuntas. * Combinando as árvores do grafo contraído com as árvores geradoras dos subgrafos monocromáticos, obtemos as árvores procuradas. ** Corolário: ** Todo grafo $2k$-conexo por arestas empacota $k$ árvores geradoras. ** Demonstração: ** * À maneira do **lema das arestas de cruzamento**, dada uma coloração, particione os vértices em classes conexas maximais. * Olhando agora para a contração, cujos vértices são estas classes: * O grau dos vértices aqui devem ser no mínimo $2k$. * Não fosse, teríamos vértices com grau $\leq 2k-1$, e remover estas $2k-1$ arestas testemunharia não $2k$-conexidade de $G$. * As arestas acima correspondem as arestas de cruzamento desta coloração. * Temos então no mínimo $r$ classes, com $2k$ arestas de cruzamento saindo de cada uma, o que totaliza no mínimo $\frac{1}{2}\sum_{i=1}^r 2k = kr>k(r-1)$ arestas. * Satisfazemos então a hipótese do teorema de Nash-Williams, e portanto $G$ empacota $k$ árvores geradoras. Suponha que $G$ (conexo) pode ser recoberto por $k$ árvores geradoras (de $G$). * Seja $U$ coleção de vértices, e $T$ uma destas árvores geradoras. * Note que $T[U]$ é árvore com $|U|$ vértices, e portanto $|U|-1$ arestas. * Nesse caso o grafo $G[U]$, recoberto pelas arestas $T[U]$ com $T$ uma das $k$ árvores geradoras do recobrimento, tem no máximo $k(|U|-1)$ arestas. O teorema a seguir afirma que a condição necessária obtida acima, para que um grafo possua recobrimento por $k$ de suas árvores geradoras, é na verdade suficiente. ** Teorema: ** Um grafo pode ser recoberto por $k$ de suas árvores geradoras se, e somente se, para todo subconjunto de vértices $U$ temos que $|E(G[U])| \leq k(|U|-1)$. ** Demonstração : ** * Seja $G$ grafo tal que, para todo $U \subset \mathrm{V}(G)$, temos $|E(G[U])| \leq k(|U|-1)$. * Seja $C$ componente conexa de $G$. * Aplique o teorema do recobrimento por empacotamento ao grafo $C$ e natural $k$. * O teorema fornece $\mathcal{P}$ partição dos vértices de $C$ tal que * Toda componente monocromática admite empacotamento por $k$ árvores geradoras. * $C/\mathcal{P}$ é coberto por $k$ árvores geradoras. * Para cada $U \in \mathcal{P}$, note que as arestas das $k$ árvores resultam em $k(|U|-1)$ arestas, oque devem ser todas as arestas de $G[U]$. * Combinando estas árvores com as árvores de $C/\mathcal{P}$, obtemos cobertura de $C$ por $k$ árvores geradoras de $C$. A **arboricidade** de um grafo $G$ é a menor quantidade de árvores geradoras de $G$ necessárias para recobrí-lo. Note que o teorema acima nos diz que a arboricidade de $G$ é \[ \left\lceil \sup \left\{ \frac{|E(G[U])|}{|U|-1} \, : \, U \subset \mathrm{V}(G) \right\} \right\rceil \]