$\def\dom{\text{dom}}$ ======== Funções contínuas ======== ==== Modo elegante ativado ==== {{ youtube>Ge7OawGJ4zg?small}} Vimos como definir funções contínuas usando [[limites:funcoesContinuas|limites]]. Vamos agora ver um modo alternativo de definir continuidade, mas de uma maneira que é mais fácil de generalizar para outros contextos. Antes de conseguir fazer a definição propriamente dita, precisamos de um conceito base: Dizemos que um conjunto $A \subset \mathbb R$ é **aberto** se, para todo ponto $x \in A$, existe $r > 0$ tal que $]x - r, x + r[ \subset A$. **Exemplo** Considere o conjunto $]2, 5[$. Tal conjunto é aberto: de fato, dado $x \in ]2, 5[$, basta tomar $r = \min\{5 - x, x - 2\}$ e notar que $]x - r, x + r[ \subset ]2, 5[$. **~~#~~** Mostre que $]0, 2[ \cup ]4, 7[$ é aberto. **~~#~~** Mostre que $[0, 1[$ não é aberto. A ideia de um conjunto aberto é que todos os seus pontos cabem com uma certa folga dentro próprio conjunto. **~~#~~** Mostre que se $A$ e $B$ são abertos, então $A \cap B$ e $A \cup B$ também são abertos. Dados $f$ uma função real e $Y \subset \mathbb R$, denotamos por $f^{-1}[Y] = \{x \in \dom(f): f(x) \in Y\}$. Cuidado na notação anterior, isso não quer dizer que $f$ tenha uma inversa. **Proposição** Seja $f: \mathbb R \to \mathbb R$. Então $f$ é contínua se, e somente se, para todo $A$ aberto, $f^{-1}[A]$ é aberto. **Dem.:** Primeiro suponha que $f$ seja contínua. Seja $A$ um aberto. Seja $x \in f^{-1}[A]$ (ou seja, $f(x) \in A$). Precisamos mostrar que existe $r > 0$ tal que $]x - r, x + r[ \subset f^{-1}[A]$. Note que essa última inclusão nada mais é que dizer, para todo $z \in ]x - r, x + r[$, $f(z) \in A$. Vamos então mostrar isso. Como $f(x) \in A$ e $A$ é aberto, existe $s > 0$ tal que $]f(x) - s, f(x) + s[ \subset A$. Como $f$ é contínua, existe $\delta > 0$ tal que, se $|z - x| < \delta$, então $|f(z) - f(x)| < s$. Ou seja, tomando $r = \delta$, funciona, pois dado $z \in ]x - r, x + r[$, isso quer dizer que $|z - x| < \delta$. Assim, $|f(z) - f(x)| < s$. O que quer dizer que $f(z) \in ]f(x) - s, f(x) + s[$. Como $]f(x) -s, f(x) + s[ \subset A$, temos que $f(z) \in A$ como queríamos. Agora suponha que $f^{-1}[A]$ é aberto para todo $A$ aberto. Vamos mostrar que $f$ é contínua em todo ponto $x$. Seja $\varepsilon > 0$. Note que $A = ]f(x) - \varepsilon, f(x) + \varepsilon[$ é aberto. Assim, $f^{-1}[A]$ é aberto. Logo, existe $r > 0$ tal que $]x - r, x + r[ \subset f^{-1}[A]$. Vamos tomar $\delta = r$. Assim, dado $z$ tal que $|x - z| < \delta$, temos que $z \in ]x - r, x + r[$. Assim, $z \in f^[A]$. Ou seja, $f(z) \in ]f(x) - \varepsilon, f(x) + \varepsilon[$. Mas isso nada mais quer dizer que $|f(z) - f(x)| < \varepsilon$, como queríamos. $\square$ Em contextos mais gerais, o enunciado anterior é a própria definição de um função ser contínua (ou seja, o que a gente acabou de mostrar foi que essa ideia mais geral coincide com o caso particular mais comum visto em cursos de Cálculo. Num contexto mais geral, temos uma coleção fixada de quem são os abertos - daí com eles definimos o que é uma função ser contínua. Mas, obviamente, de nada adiantaria ter uma definição assim, "mais estranha", se ela não tivesse vantagens. Para apresentar uma, vamos reprovar um resultado que temos, mas usando essa caracterização: **Proposição** Sejam $f$ e $g$ funções contínuas. Então $f \circ g$ é contínua. **Dem.:** Só precisamos mostrar que $(f \circ g)^{-1}[A]$ é aberto para todo $A$ aberto. Note que $f^{-1}[A]$ é aberto, pois $f$ é contínua. Então $g^{-1}[f^{-1}[A]]$ também é aberto (agora pela continuidade de $g$). Como $(f \circ g)^{-1}[A] = g^{-1}[f^{-1}[A]]$, temos o resultado. $\square$