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Mocidade vaidosa não chegará
jamais a
virilidade útil. Onde os meninos camparem de doutores, os doutores
não passarão de
meninos. A mais formosa das idades ninguém porá em
dúvida que seja a dos moços:
todas as graças a enfloram e coroam. Mas de todas se despiu, em
sendo
presunçosa. Nos tempos de preguiça e ociosidade cada
indivíduo nasce a
regurgitar de qualidades geniais. Mal esfloraram os primeiros livros, e
já se
sentem com força de escrever tratados. Dos seus lentes
desdenham, nos seus
maiores desfazem, chocarreiam dos mais adiantados em anos. Para saber a
política, não lhes foi mister conhecer o mundo, ou tratar os homens. Extasiados nas
frases postiças e nas idéias ressonantes, vogam à
discrição dos enxurros da borrasca, e
colaboram nas erupções da anarquia. Não conhecem a
obediência aos superiores e
a reverência aos mestres. São os árbitros do gosto,
o tribunal das letras, a
última instância da opinião. Seus epigramas crivam
de sarcasmos as senhoras nas
ruas; suas vaias sobem, nas escolas, até à cátedra
dos professores. É uma
superficialidade satisfeita e incurável, uma precocidade
embotada e gasta, mais
estéril que a velhice. Deus a livre a esta de tais sucessores, e vos
preserve de
semelhantes modelos.
Sede, meus caros amiguinhos, tais quais o
verdor florescente de vossos anos o exige: afervorados, entusiastas,
intrépidos, cheios das aspirações do futuro e
inimigos dos abusos do presente. Mas
não vos reputeis o sal da terra.
Habituai-vos a obedecer, para aprender a
mandar. Costumai-vos a ouvir, para alcançar a45 entender. Afazei-vos a
esperar, para lograr
concluir. Não delireis nos vossos triunfos. Para
não arrefecerdes, imaginai que podeis vir a saber tudo; para
não
presumirdes, refleti que, por muito que souberdes, mui pouco tereis
chegado a
saber. Sede, sobretudo, tenazes, quando o objeto almejado se vos
furtar na
obscuridade avara do ignoto. Profundai a escavação,
incansáveis como o mineiro
no garimpo. De um momento para outro, no filão resistente se
descobrirá,
talvez, por entre a ganga, o metal precioso.
Haveis
de ouvir falar amiúde em portentos e monstros, cuja capacidade
nasce consumada
e deslumbrante do seio materno, como Palas da cabeça de
Júpiter. O portento
pagão se renova, entre nós, debaixo de todos os tetos.
Cada família se gaba de
uma águia. Triste ilusão da paternidade mal equilibrada.
Os gênios são meteoros
raros, nem sempre benéficos. E raramente serão frutos
espontâneos da natureza:
as mais das vezes os cria a paciência e a perseverança. É a assiduidade na
educação metódica e sistemática de
nós mesmos o que descobre as grandes
vocações e amadurece os grandes escritores, os grandes
artistas, os grandes
observadores, os grandes inventores, os grandes homens de Estado.
Não contesto
a inspiração; advirto apenas em que é
freqüentemente uma revelação do
trabalho.
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